de Pieter gritou la no Cubo:

— Capitao! Convem virem para fora.

— Que e que ha? Biomatos dirigindo-se para ca?

— Nao, e algo muito mais serio. As luzes estao se apagando.

43 RETIRADA

QUANDO SAIU apressadamente pelo buraco que haviam aberto com o laser, pareceu a Norton que os seis sois de Rama continuavam tao brilhantes como sempre. «Pieter deve ter cometido algum erro», pensou. «Isso esta fora dos seus habitos…» Mas Pieter tinha previsto esta reacao.

— A coisa aconteceu tao devagar — explicou ele, como quem se desculpa, — que so depois de muito tempo notei alguma diferenca. Mas nao ha a menor duvida. O fotometro indica que o nivel de iluminacao baixou quarenta por cento.

Norton, cujos olhos ja se haviam reajustado apos a penumbra do templo de vidro, podia acreditar nele agora. O longo dia de Rama aproximava-se do fim.

O calorzinho ambiente era ainda o mesmo, e no entanto Norton sentia-se arrepiar de frio. Tivera essa sensacao ja uma vez, durante um belo dia de verao na Terra. A luz enfraquecera inexplicavelmente, como se uma escuridao caisse da atmosfera, ou como se o sol tivesse perdido a sua forca — embora nao houvesse uma so nuvem no ceu. Entao se lembrou: estava havendo na ocasiao um eclipse parcial.

— Pois ai esta — disse, com a testa franzida. — Vamos voltar para casa. Abandonem toda a aparelhagem. Nao precisaremos mais dela.

Agora — assim esperava — um detalhe do planejamento ia demonstrar o seu valor. Havia escolhido Londres para essa incursao porque nenhuma outra cidade se achava tao proxima de uma escadaria. A Beta comecava a apenas quatro quilometros dali.

Puseram-se a caminho naquele marche-marche compassado que era a andadura mais comoda a meia gravidade. Norton estabeleceu um ritmo que, pelos seus calculos, os levaria a orla da planicie num minimo de tempo e sem exaustao. De modo nenhum esquecia os oito quilometros que ainda teriam de subir quando chegassem a Beta, mas sentir-se-ia muito mais tranquilo quando tivessem iniciado a ascensao.

O primeiro tremor ocorreu ja quase ao alcancarem a escadaria. Foi levissimo, e Norton se virou instintivamente para o sul, esperando ver outra exibicao pirotecnica em redor dos Chifres. Mas em Rama nunca parecia acontecer exatamente a mesma coisa duas vezes; se havia descargas eletricas acima das pontiagudas montanhas, eram fracas demais para ser vistas.

— Ponte — chamou ele. — Repararam nisso?

— Sim, Capitao. Um choque muito pequeno. Pode ter sido outra mudanca de posicao. Estamos observando o girometro… Por enquanto, nada. Um momentinho! Leitura positiva! Mal se pode perceber. Menos de um microrradiano por segundo, mas se mantem firme.

De modo que Rama estava comecando a fazer a volta, ainda que com uma lentidao quase imperceptivel. Aqueles primeiros choques talvez tivessem sido um alarma falso — mas este sem duvida era autentico.

— Ritmo aumentando… cinco microrradianos. Alo! Ouviram este choque agora?

— Claro que ouvimos. Ponham em operacao todos os sistemas da nave. Talvez tenhamos de partir as pressas.

— O senhor esperava uma mudanca de orbita para ja? Ainda estamos longe do perielio.

— Nao creio que Rama funcione de acordo com os nossos manuais. Estamos chegando a Beta. Vamos descansar cinco minutos ai.

Cinco minutos era o que se chama insuficiente, mas foi como se ele tivesse dito um seculo. Pois agora nao havia duvida de que a luz se estava apagando, e apagando-se bem depressa.

Embora todos tivessem as suas lanternas, a ideia da escuridao ali tornara-se intoleravel; a tal ponto se haviam acostumado psicologicamente ao interminavel dia que era dificil recordar as condicoes em que tinham explorado pela primeira vez aquele mundo. Sentiam um impulso irresistivel de fugir — de sair para a luz do sol, de que os separava aquela parede cilindrica de um quilometro de espessura.

— Controle Central! — chamou Norton. — O projetor esta funcionando? Talvez precisemos dele para logo.

— Sim, Capitao. Aqui esta ele.

Uma tranquilizadora centelha de luz comecou a brilhar oito quilometros acima deles. Mesmo contra o dia agonizante de Rama, parecia surpreendentemente fraca; mas ja lhes fora util uma vez e tornaria a guia-los se necessitassem dela.

Bem sabia Norton que esta seria a mais longa e torturante ascensao que ate entao tinham feito. Acontecesse o que acontecesse, nao podiam se apressar; se fizessem demasiado esforco, cairiam simplesmente extenuados naquela rampa vertiginosa e teriam de esperar ate que os seus musculos recuperassem a elasticidade normal e lhes permitissem continuar. A essa altura deviam ser uma das tripulacoes mais aptas que ja haviam realizado uma missao espacial; mas ha limites Para o que a carne e o sangue podem suportar.

Apos uma hora de ininterrupto mourejar, haviam alcancado a Quarta secao da escadaria, a cerca de tres quilometros da planicie. Dai em diante a escalada seria muito mais facil; a gravidade ja se reduzira a um terco de seu valor na Terra. Embora continuassem a sentir-se pequenos choques de tempos a tempos, nao ocorrera nenhum outro fenomeno inusitado e ainda havia luz de sobra. Comecaram a ficar mais otimistas e ate a desconfiar que tivessem partido cedo demais. Uma coisa era certa, porem: nao seria mais possivel voltar. Haviam trilhado pela ultima vez a planicie de Rama.

Foi enquanto gozavam dez minutos de repouso na quarta plataforma que Joe Calvert exclamou subitamente:

— Que barulho e esse, Capitao?

— Barulho!… Nao estou ouvindo nada.

— Um apito agudo, baixando de frequencia… E impossivel que nao ouca!

— Voce tem um ouvido mais moco do que o meu… Oh! Agora ouco.

O apito parecia provir de todas as direcoes. Logo ficou forte, ate estridente, e baixando rapidamente de tom. De subito, cessou.

Alguns segundos depois recomecou, repetindo a mesma sequencia. Tinha o som lugubre e premente de uma sirena de farol a espalhar o seu aviso na noite enfuscada pelo nevoeiro. Havia naquilo uma mensagem, e uma mensagem urgente. Nao se destinava aos ouvidos daqueles homens, mas eles a compreendiam. E, como para maior garantia de que seria ouvida, corroboravam-na as proprias luzes.

Amorteciam ate quase se apagarem e depois comecavam a lampejar. Globulos cintilantes, como fogo-de- santelmo, corriam ao longo dos seis estreitos vales que antes haviam iluminado aquele mundo. Partiam de ambos os polos em direcao ao Mar, num ritmo sincronizado, hipnotico, que so podia significar uma coisa. «Ao Mar! Ao Mar!» bradavam as luzes. «Ao Mar!» E era dificil resistir a esse chamado; nao houve um so homem que nao sentisse o impulso de voltar atras e buscar o esquecimento nas aguas de Rama.

— Controle Central! — chamou Norton numa voz urgente. — Podem ver dai o que esta acontecendo?

Respondeu-lhe a voz de Pieter, que soava pasmada e nao pouco atemorizada.

— Sim, Capitao. Estou olhando o continente meridional. Ainda se veem duzias de biomatos por la — inclusive alguns dos grandes, Guindastes, Bulldozers, e magotes de Lixeiros. E todos se precipitam para o Mar; nunca os vi andar tao depressa. La vai um Guindaste, mergulhando do alto da plataforma! Tal como Jimmy, so que afundou muito mais rapido; todo ele se fez em pedacos ao bater na agua. E ai vem os tubaroes — ja se atiraram a ele. Ui! nao e nada bonito de se ver.

«Agora estou olhando a planicie. Aqui esta um Bulldozer que parece enguicado. Tudo que faz e andar em roda, andar em roda… Agora um par de Caranguejos comecou a arrancar-lhe os pedacos… Capitao, acho que convem voltarem imediatamente.

— Pode crer — disse Norton do fundo d'alma — que estamos voltando tao depressa quanto podemos.

Rama trancava as escotilhas como um navio que se prepara para uma tormenta. Essa era a assoberbante impressao de Norton, conquanto nao a pudesse assentar sobre uma base logica. Ja nao se sentia completamente

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