curto.
Ela aguardou qualquer reacao, mas ele nao disse nada. Mari continuou:
— Voce mesmo sugeriu que eu me tratasse. Quando eu pensava em aposentadoria, estava pensando em sair vitoriosa, realizada, por minha livre e expontanea vontade. Nao quero largar meu emprego assim, porque fui derrotada. De-me pelo menos uma chance de recuperar minha auto-estima, e entao eu peco a aposentadoria.
O advogado pigarreou.
— Eu sugeri que voce se tratasse, nao que se internasse.
— Mas era uma questao de sobrevivencia. Eu simplesmente nao conseguia sair na rua, o meu casamento estava acabando.
Mari sabia que estava jogando suas palavras fora. Nada do que fizesse iria conseguir dissuadi-lo — afinal de contas, era o prestigio do escritorio que estava em jogo. Mesmo assim, tentou mais uma vez.
— Eu aqui dentro tenho convivido com dois tipos de pessoas: gente que nao tem chance de voltar a sociedade, e gente que esta absolutamente curada, mas prefere fingir-se de louca, para nao ter que enfrentar as responsabilidades da vida. Eu quero, eu preciso voltar a gostar de mim mesma, devo convencer-me que sou capaz de tomar minhas proprias decisoes. Nao posso ser empurrada para coisas que nao escolhi.
— Nos podemos cometer muitos erros em nossas vidas -disse o advogado. — Menos um: aquele que nos destroi.
Nao adiantava continuar a conversa: na opiniao dele, Mari havia cometido o erro fatal.
Dois dias depois, anunciaram a visita de outro advogado — desta vez de um escritorio diferente, considerado o melhor rival dos seus agora ex-companheiros. Mari animou-se: talvez ele soubesse que ela estava livre para aceitar um novo emprego, e ali estava a chance de recuperar o seu lugar no mundo.
O advogado entrou na sala de visitas, sentou-se diante dela, sorriu, perguntou se ja estava melhor, e tirou varios papeis da mala.
— Estou aqui por causa do seu marido — disse. — Isto e um pedido de divorcio. E claro, ele pagara suas despesas de hospital pelo tempo que permanecer aqui.
Desta vez, Mari nao reagiu. Assinou tudo, mesmo sabendo que — de acordo com a Justica que havia aprendido — podia prolongar indefinidamente aquela briga. Em seguida, foi ate o Dr. Igor, e disse que os sintomas de panico haviam retornado.
Dr. Igor sabia que ela estava mentindo, mas prolongou a internacao por tempo indeterminado.
Veronika resolveu se deitar, mas Eduard continuava de pe, ao lado do piano.
— Estou cansada, Eduard. Preciso dormir.
Gostaria de continuar tocando para ele, retirando de sua memoria anestesiada todas as sonatas, requiens, adagios que conhecia — porque ele sabia admirar sem exigir. Mas seu corpo nao aguentava mais.
Ele era um homem tao bonito! Se pelo menos saisse um pouco de seu mundo e a olhasse como uma mulher, entao as suas ultimas noites nesta terra podiam ser as mais belas de sua vida, porque Eduard era o unico capaz de entender que Veronika era uma artista. Conseguira com aquele homem um tipo de ligacao como jamais conseguira com alguem — atraves da emocao pura de uma sonata ou de um minueto.
Eduard era o homem ideal. Sensivel, educado, que destruira um mundo desinteressante para recria-lo de novo em sua cabeca, desta vez com novas cores, personagens, historias. E este mundo novo incluia uma mulher, um piano, e uma lua que continuava a crescer.
— Eu podia me apaixonar agora, entregar tudo que tenho a voce — disse, sabendo que ele nao podia entende-la. -Voce me pede apenas um pouco de musica, mas eu sou muito mais do que pensava que era, e gostaria de dividir outras coisas que passei a entender.
Eduard sorriu. Sera que tinha compreendido? Veronika ficou com medo — o manual do bom comportamento diz que nao se deve falar de amor de uma maneira tao direta, e jamais com um homem que vira tao poucas vezes. Mas resolveu continuar, porque nao tinha nada a perder.
— Voce e o unico homem na face da terra pelo qual eu posso me apaixonar, Eduard. Simplesmente porque, quando eu morrer, voce nao sentira minha falta. Nao sei o que um esquizofrenico sente, mas certamente nao deve ser saudades de alguem.
«Talvez, no inicio, voce estranhe o fato de que nao existe mais musica durante a noite; entretanto, sempre que a lua aparecer, havera alguem disposto a tocar sonatas, principalmente num sanatorio — ja que todos nos aqui somos «lunaticos».
Nao sabia qual a relacao entre os loucos e a lua, mas devia ser muito forte, pois usavam uma palavra daquelas para descrever os doentes mentais.
— E eu tampouco vou sentir falta de voce, Eduard, porque vou estar morta, longe daqui. E como nao tenho medo de perde-lo, nao me importo com o que voce vai pensar ou nao de mim, eu hoje toque para voce como uma mulher apaixonada. Foi otimo. Foi o melhor momento de minha vida.
Olhou para Mari la fora. Lembrou-se de suas palavras. E tornou a olhar para o rapaz a sua frente.
Veronika tirou o sueter, aproximou-se de Eduard — se tivesse que fazer algo, que fosse agora. Mari nao ia aguentar o frio la fora por muito tempo, e logo tornaria a entrar.
Ele recuou. A pergunta em seus olhos era outra: quando iria voltar para o piano? Quando tocaria uma nova musica, para encher sua alma com as mesmas cores, sofrimentos, dores, e alegrias daqueles compositores loucos, que tinham atravessado tantas geracoes com suas obras?
— A mulher la fora me disse: «masturbe-se. Saiba onde quer chegar». Sera que posso ir mais longe do que sempre fui?
Ela pegou sua mao, e quis conduzi-lo ate o sofa, mas Eduard polidamente recusou. Preferia ficar de pe onde estava, ao lado do piano, esperando pacientemente que ela voltasse a tocar.
Veronika ficou desconcertada, e logo se deu conta que nada tinha a perder. Estava morta, de que adiantava ficar alimentando medos ou preconceitos com que sempre limitaram a sua vida? Tirou a blusa, a calca, o sutia, a calcinha, e ficou nua diante dele.
Eduard riu. Ela nao sabia de que, mas reparou que ele rira. Delicadamente, pegou sua mao, e colocou-a em seu sexo; a mao ficou ali, imovel. Veronika desistiu da ideia, e retirou-a.
Algo a estava excitando muito mais do que um contato fisico com aquele homem: o fato de que podia fazer o que quisesse, de que nao havia limites — exceto pela mulher la fora, que podia entrar a qualquer hora, ninguem mais devia estar acordado.
O sangue comecou a correr mais rapido, e o frio -
sentira ao seu despir — foi desaparecendo. Os dois estavam de pe, frente a frente, ela nua, ele totalmente vestido. Veronika desceu a mao ate o seu sexo, e comecou a masturbar-se; ja fizera aquilo antes, sozinha ou com alguns parceiros — mas nunca numa situacao como esta, onde o homem nao demonstrava qualquer interesse pelo que estava acontecendo.
E isso era excitante, muito excitante. De pe, com as pernas abertas, Veronika tocava seu sexo, seus seios, seus cabelos, entregando-se como nunca se entregara, nem tanto porque queria ver aquele rapaz saindo do seu mundo distante, mas porque nunca tinha experimentado isto.
Comecou a falar, a dizer coisas impensaveis, que seus pais, seus amigos, seus ancestrais considerariam o que havia de mais sujo no mundo. Veio o primeiro orgasmo, e ela mordeu os labios para nao gritar de prazer.
Eduard a encarava. Havia um brilho diferente nos seus olhos, parecia que estava compreendendo alguma coisa, nem que fosse a energia, o calor, o suor, o cheiro que exalava do seu corpo. Veronika ainda nao estava satisfeita. Ajoelhou-se, e comecou a masturbar-se de novo.
Queria morrer de gozo, de prazer, pensando e realizando tudo que sempre lhe fora proibido: implorou ao homem que a tocasse, que a submetesse, que a usasse para tudo o que tinha vontade. Quis que Zedka estivesse tambem ali, porque uma mulher sabe como tocar o corpo da outra como nenhum homem consegue, ja que conhece todos os seus segredos.
De joelhos, diante daquele homem em pe, ela sentiu-se possuida e tocada, e usou palavras pesadas para descrever o que queria que ele lhe fizesse. Um novo orgasmo foi chegando, desta vez mais forte que nunca, como se tudo a sua volta fosse explodir. Lembrou-se do ataque do coracao que tivera aquela manha, mas isto nao tinha mais nenhuma importancia, ia morrer gozando, explodindo. Sentiu-se tentada a segurar o sexo de Eduard, que se encontrava bem diante do seu rosto, mas nao queria correr nenhum risco de estragar aquele momento; estava