Agradeco a ela vivamente e, entao, a angustia que passei a sentir depois que me reconheceram desaparece imediatamente. Foi, pelo contrario, uma sorte enorme para mim ter encontrado estas boas irmas. Efetivamente, ao anoitecer, chegamos a um posto de policia (em espanhol,
–
–
–
E saimos andando, tranquilamente.
As 10 horas da noite, um outro posto, muito iluminado. Duas filas de viaturas de toda classe esperam, paradas. Uma vem pela direita, a nossa pela esquerda. As malas dos carros sao abertas e os policiais olham dentro. Vejo uma mulher, obrigada a descer, remexendo na sua bolsa. Ela e levada ao posto de policia. Nao tem, provavelmente, a
–
E todos saem e mostram um cartao com sua fotografia.
Zorrillo nunca me falou nisso. Se soubesse, teria talvez tentado arranjar uma
Deus do ceu, como e demorada a operacao de exame desse onibus. A irlandesa se volta para mim: “Fique calmo, Enrique”. Tomo imediatamente um susto com esta frase imprudente, o condutor certamente ouviu.
Chegando nossa vez, a carroca avanca nesta luz brilhante. Resolvo me sentar. Ficando deitado, segundo me parece, posso dar a impressao de que me escondo. Apoiei as costas nas tabuas da carroca e olho para as costas das irmas. So posso ser visto de perfil e tenho o chapeu bastante afundado na cabeca, mas sem exagero.
–
–
–
–
–
–
E nos passamos tranquilamente, sem que ninguem nos exija coisa alguma. As emocoes dos minutos passados devem ter dado dor de barriga nas boas irmas, porque, a 100 metros dali, fazem parar a viatura para descer e desaparecer por um instante no mato. Voltamos a andar. Acendo um cigarro. Estou tao emocionado, que, quando a irlandesa sobe, eu lhe digo:
– Obrigado, minha irma.
Ela me diz:
– Nao ha de que, mas nos tivemos tanto medo, que isso nos desarranjou os intestinos.
Por volta da meia-noite, chegamos ao convento. Um grande muro, uma grande porta. O carroceiro saiu para ajeitar os cavalos e a carroca e as tres meninas sao conduzidas ao interior do convento. Na escadaria do patio, uma discussao acalorada se trava entre a irma porteira e as duas irmas. A irlandesa me diz que nao quer acordar a madre superiora para lhe pedir autorizacao para que eu durma no convento. Ai, fico indeciso. Deveria aproveitar rapidamente este incidente para me retirar e partir para Santa Marta, uma vez que sabia que so faltavam 8 quilometros.
Este erro me custou, mais tarde, sete anos de cana.
Por fim, a madre superiora foi acordada, e me dao um quarto no segundo andar. Da janela, vejo as luzes da cidade. Distingo o farol e as luzes fixas. Do porto sai um barco grande.
Adormeco e o sol esta alto quando batem a minha porta. Tive um sonho atroz. Lali abria a barriga dela em minha presenca e nosso filho saia de sua barriga aos pedacos.
Faco a barba e me lavo muito rapidamente. Desco. Ao pe da escada esta a irma irlandesa, que me recebe com um ligeiro sorriso:
– Bom dia, Henri. O senhor dormiu bem?
– Sim, minha irma.
– Venha, por favor, ao escritorio de nossa madre superiora, que quer ver o senhor.
Entramos. Uma mulher esta sentada atras de uma escrivaninha. Um rosto extremamente severo, de uma pessoa de cinquenta e tantos anos talvez, me encara com olhos negros sem brandura.
–
–
–
– O senhor e frances, foi o que me disseram.
– Sim, madre.
– O senhor fugiu da prisao de Rio Hacha?
– Sim, madre.
– Ha quanto tempo?
– Perto de sete meses.
– Que fez durante este tempo?
– Estive com os indios.
– O que? O senhor, com os guajiros? Isso nao se admite. Esses selvagens nunca permitiram ninguem no seu territorio. Nenhum missionario conseguiu penetrar ali, imagine. Nao admito essa resposta. Onde o senhor esteve? Diga a verdade.
– Madre, estava com os indios e tenho prova.
– Qual?
– Perolas que eles pescaram.
Desprego o saco que esta seguro com alfinetes no meio das costas do meu paleto e o entrego a ela. Ela abre o saco e dele sai um punhado de perolas.
– Quantas perolas ha ai?
– Nao sei, talvez quinhentas ou seiscentas. Mais ou menos.
– Isso nao e uma prova. O senhor pode ter roubado em outro lugar.
– Madre, para que sua consciencia fique em paz, se quiser eu fico aqui o tempo que for preciso para que possa se informar se houve um roubo de perolas. Prometo a senhora nao me mexer de meu quarto ate o dia em que a senhora decidir o contrario.
Ela me olha muito fixamente. Suponho que deve dizer a si mesma: “E se voce fugir? Ja fugiu da prisao, daqui e mais facil…”
– Deixarei com a senhora o saco de perolas, que sao toda a minha fortuna. Sei que estou em boas maos.
– Bem, esta combinado. Nao, o senhor nao precisa ficar fechado no seu quarto. De manha e a tarde, pode descer ao jardim, quando minhas filhas estao na capela. O senhor comera na cozinha, junto com os empregados.
Saio desta entrevista um pouco tranquilizado. No momento em que vou subir ao meu quarto, a irma irlandesa me leva para a cozinha. Uma taca grande de cafe com leite, pao preto muito fresco e manteiga. A irma me ve comer sem dizer uma palavra e sem se sentar, de pe a minha frente. Tem um aspecto preocupado. Digo:
– Obrigado, minha irma, por tudo que fez em meu favor.
– Gostaria de fazer mais ainda, mas nao posso fazer mais nada, meu amigo Henri – e, com estas palavras, sai da cozinha.
Sentado diante da janela, olho a cidade, o porto, o mar. O campo ao redor esta bem cultivado. Nao consigo me desfazer da impressao de que me encontro em perigo. A tal ponto, que decido escapar na noite proxima. Tanto pior para as perolas, que fiquem para seu convento ou para ela propria, a madre superiora. Ela nao confia em mim e, alem do mais, nao devo me enganar, porque nao e possivel que nao fale frances, uma catala, madre superiora de um convento, portanto instruida. Isso e bem esquisito. Conclusao: nesta noite caio fora.
Sim, nesta tarde vou descer ao patio, para ver o lugar por onde posso saltar o muro. Por volta da 1 hora, batem a minha porta:
– Desca, por favor, para comer, Henri.
– Sim, ja vou, obrigado.
Sentado a mesa da cozinha, mal comeco a me servir da carne com batatas cozidas, quando a porta se abre e aparecem, armados de fuzis, quatro policiais em uniformes brancos, um com galoes, de revolver na mao.
–
Ele me poe algemas. A irma irlandesa da um grande grito e desmaia. Duas irmas da cozinha a levantam.
–
Ele sobe comigo ao meu quarto. Minha trouxa e revolvida e encontram logo as 36 moedas de ouro de 100 pesos que ainda me restam, porem nao examinam o estojo com as duas flechas. Sem duvida, acreditaram que eram lapis. Com uma satisfacao nao escondida, o chefe bota nos seus bolsos as moedas de ouro. A gente