nao reativo. A chamada Propulsao Espacial, em que o Professor Davidson nao acredita. Se assim for, Rama deve ser praticamente capaz de tudo. Nao poderemos de modo nenhum prever o seu comportamento, mesmo no nivel macrofisico.»

Os diplomatas, visivelmente, nao sabiam o que pensar de toda essa conversa, e o astronomo recusava-se a ser arrastado na discussao. Ja se havia aventurado o suficiente por um dia.

— Se me permitem, fico com as leis da Fisica enquanto nao me forcarem a abandona-las. Se nao encontramos giroscopios em Rama, talvez seja por nao termos procurado bastante, ou no lugar apropriado.

O Embaixador Bose percebeu que o Dr. Perera estava se impacientando. Normalmente, o exobiologista se comprazia como qualquer outro em investigacoes teoricas; mas agora, pela primeira vez, tinha alguns fatos solidos. Sua ciencia, que por tanto tempo vivera na penuria, havia enriquecido da noite para o dia.

— Muito bem. Se nao ha outros comentarios… creio que o Dr. Perera tem alguma informacao importante para nos.

— Obrigado, Sr, Embaixador. Como todos os senhores viram, obtivemos afinal um especime de ser vivo ramaiano e observamos varios outros de perto. A Medica-chefe Ernst, da Endeavour, enviou um relatorio completo sobre a criatura com aparencia de aranha, que ela dissecou.

«Para comecar, devo dizer que alguns dos resultados consignados pela Dra. Ernst sao aparentemente inexplicaveis, e em quaisquer outras circunstancias eu me teria recusado a acredita-los.

«A aranha e positivamente um ser organico, se bem que a sua quimica difira da nossa a muitos respeitos. Contem metais leves em quantidades consideraveis. No entanto, hesito em qualifica-la como um animal, por varias razoes fundamentais.

«Em primeiro lugar, parece nao ter boca, nem estomago, nem intestinos — nenhum meio de absorver alimentos! Tambem carece de vias de entrada para o ar, de pulmoes, de meio circulatorio, de aparelho reprodutor…

«Talvez os senhores estejam se perguntando o que e que ela possui. Pois bem, possui uma musculatura simples, que controla as tres pernas e os tres apendices em forma de flagelos ou palpos. Ha um cerebro — bastante complexo, alias — que preside principalmente a bem desenvolvida visao triocular da criatura. Mas oitenta por cento do corpo consistem num favo de celulas grandes, e foi isso que causou a Dra. Ernst uma surpresa tao desagradavel no momento em que se preparava para iniciar a dessecacao. Com um pouco mais de sorte ela o teria reconhecido a tempo, pois e a unica estrutura dos seres ramaianos que existe na Terra, ainda que apenas num punhado de animais marinhos.

«Em sua maior parte, a aranha e simplesmente uma bateria, muito semelhante as que sao encontradas nas celulas e raias eletricas. Mas. neste caso, nao parece tratar-se de uma arma de defesa. E a fonte de energia da criatura. E ai esta por que ela nao tem aparelho digestivo nem respiratorio: nao necessita de metodos tao primitivos. E, diga-se de passagem, isto significa que a aranha se sentiria perfeitamente a vontade no vacuo…

«Temos, pois, um ser que, para todos os efeitos, nada mais e do que um olho dotado de locomocao. Orgaos de manipulacao, nao os tem; aqueles palpos sao fracos demais para isso. Se me dessem tais especificacoes, eu diria que se tratava de um simples dispositivo de reconhecimento.

«O seu comportamento certamente corresponde a esta descricao. Tudo que as aranhas fazem e correr de um lado para outro e olhar coisas. E tudo que elas podem fazer…

«Mas os outros animais sao diferentes. O caranguejo, a estrela-do-mar. os tubaroes — na falta de melhores termos — evidentemente podem manipular o seu ambiente e parecem ser especializados em diversas funcoes. Presumo que tambem sejam movidos por eletricidade, ja que, como a aranha, nao parecem ter boca.

«Estou certo de que os senhores avaliam os problemas biologicos suscitados por tudo isso. Poderiam tais criaturas evoluir naturalmente? Sinceramente, nao creio. Parecem ter sido projetadas, como maquinas, para executar trabalhos especificos. Se me pedissem para dar-lhes um nome, eu diria que sao robos — robos biologicos, uma coisa que nao tem analogia na Terra.

«Se Rama e uma nave espacial, talvez eles facam parte da tripulacao. Quanto ao modo como nasceram, ou foram criados, e algo que nao lhes sei dizer. Mas posso imaginar que a resposta se encontra la adiante, em Nova Iorque. Se o Comandante Norton e os seus homens puderem esperar o tempo suficiente para isso, talvez venham a conhecer criaturas mais e mais complexas, com um comportamento imprevisivel.

«E e possivel que se encontrem com os proprios ramaianos — os verdadeiros criadores deste mundo.

«Quando isso acontecer, cavalheiros, todas as duvidas se esfumarao…»

35 ENTREGA ESPECIAL

O COMANDANTE NORTON estava no bom do sono quando o seu comunicador pessoal o arrancou aos seus fagueiros sonhos. Andava em ferias com a familia em Marte e sua nave contornava o temeroso e nevado cume de Nix Olimpica, o mais alto vulcao do Sistema Solar. O pequeno Billie comecara a lhe dizer alguma coisa. Agora, nunca saberia o que era.

— Lamento te-lo acordado, Capitao, — disse o Subcomandante Kirchoff. — Mensagem do Quartel-General, com prioridade 3-A.

— Vamos ouvir — respondeu a voz sonolenta de Norton.

— Nao posso. Esta escrita em codigo. Exclusivamente para o Comandante.

Norton acabou logo de acordar. Em toda a sua carreira so havia recebido tres vezes uma mensagem dessas, e todas as tres lhe causaram serias dores de cabeca.

— Diabos os levem! — disse. — Que e que vamos fazer agora?

O seu Sub nao se deu ao trabalho de responder. Ambos compreendiam perfeitamente o problema. Era um caso que o Regulamento de Bordo nao tinha previsto. Normalmente, um comandante nunca se afastava mais que alguns minutos do seu gabinete e do Livro de Codigo que guardava no cofre. Se partisse agora, poderia chegar a nave — exausto — dentro de quatro ou cinco horas. Nao era assim que se tratava uma Prioridade Classe 3- A.

— Jerry, quem esta no quadro de ligacoes? — perguntou afinal.

— Ninguem. Eu mesmo estou chamando.

— Com o gravador desligado?

— Sim, por uma singular infracao ao regulamento.

Norton sorriu. Jerry era o melhor Sub com quem ja tinha trabalhado. Tudo pensava, tudo previa.

— Voce sabe onde guardo a minha chave. Torne a chamar. Esperou durante dez minutos com o maximo de paciencia que pode. procurando — com mediocre sucesso — ocupar-se com outros problemas. Detestava todo desperdicio de energia mental; era muito improvavel que conseguisse adivinhar o conteudo da mensagem, de que, alias, nao tardaria a tomar conhecimento. Entao sim, poderia comecar a preocupar-se com algum proveito.

Quando tornou a chamar, o Sub falava perceptivelmente sob uma consideravel tensao.

— Nao e realmente urgente, Capitao… uma hora nao fara diferenca alguma. Mas prefiro evitar o radio. Vou enviar a coisa por mensageiro.

— Mas por que?… Oh, esta bem. Eu me guiarei por voce. Quem vai atravessar as eclusas com ela?

— Vou eu pessoalmente. Chamarei o senhor quando chegar ao Cubo.

— De modo que fica Laura tomando conta da nave?

— Por uma hora, no maximo. Voltarei logo que puder.

Uma oficial medica nao tinha o treinamento especializado necessario para fazer as vezes de um comandante, assim como nao se podia esperar que um comandante fosse capaz de realizar uma operacao cirurgica. Em casos de emergencia, tinha-se as vezes passado de uma funcao a outra; mas nao era recomendado. Enfim, nao seria a primeira vez que se infringia uma ordem nessa noite…

— Oficialmente, voce nao saiu da nave. Ja acordou Laura?

— Ja. Ela esta encantada com a oportunidade.

— Felizmente, os medicos estao acostumados a guardar segredos. Ah… voce acusou recebimento?

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