soubesse se haveria solo para elas), animais de criacao e uma variedade surpreendente de insetos e microorganismos essenciais no caso dos sistemas de producao de alimentos deteriorarem e se tornar necessaria uma reversao das tecnicas agricolas basicas. Havia uma vantagem neste novo comeco. Todas as doencas e parasitas que tinham afligido a humanidade desde o inicio do tempo seriam deixados para tras, para perecerem no fogo esterilizante da Nova Solis.

Bancos de dados, „sistemas autonomos” capazes de enfrentar qualquer situacao concebivel, robos e mecanismos de reparos e apoio, tudo isso tinha que ser projetado e construido. E precisavam funcionar durante uma vida util tao longa quanto o espaco de tempo que separava a Declaracao da Independencia Americana do primeiro pouso na Lua.

Embora a tarefa parecesse pouco possivel, era tao inspiradora que a humanidade inteira se uniu para realiza-la. Aqui estava um objetivo de longo termo, o ultimo objetivo de longo, prazo capaz de conferir algum significado a vida, mesmo depois que a Terra tivesse sido destruida.

A primeira nave semeadora deixou o Sistema Solar em 2553, dirigida para o sistema quase gemeo do Sol, de Alfa Centauro A. Embora o clima do planeta Pasadena, do tamanho da Terra, fosse submetido a extremos violentos devido a proximidade de Centauro B, o proximo alvo provavel encontrava-se no dobro da distancia. O tempo de viagem para Sirius X seria de mais de quatrocentos anos e quando a semeadora chegasse ao seu destino a Terra poderia nao existir mais.

Mas se Pasadena pudesse ser colonizada com sucesso, haveria tempo suficiente para enviar de volta as boas novas. Duzentos anos para a viagem, cinquenta anos para garantir uma cabeca-de-ponte e construir um pequeno transmissor, e uns meros quatro anos para que o sinal chegasse a Terra. Com sorte a noticia seria apregoada nas ruas por volta do ano 2800.

De fato, aconteceu no ano 2786, e Pasadena era melhor do que o previsto. As noticias eram empolgantes, renovando o estimulo ao programa de semeadoras. Por volta dessa epoca, mais de vinte naves ja tinham sido lancadas, cada uma com uma tecnologia mais avancada do que sua antecessora.

Os ultimos modelos podiam alcancar um vigesimo da velocidade da luz, com mais de cinquenta alvos dentro do seu raio de acao. E mesmo quando o radiofarol de Pasadena emudeceu, depois de transmitir apenas as noticias do pouso inicial, o desanimo foi apenas momentaneo. O que tinha sido feito uma vez podia ser feito de novo com uma certeza maior de sucesso.

Por volta de 2700 a tosca tecnologia dos embrioes congelados foi abandonada. A mensagem genetica que a Natureza codificava na estrutura espiral da molecula de DNA podia agora ser guardada de modo mais facil, mais seguro, e ate mesmo mais compacto, nas memorias dos computadores de ultima geracao, de modo que um milhao de genotipos podiam ser transportados por uma nave semeadora nao maior do que um aviao de passageiros de mil lugares.

Assim, toda uma nacao ainda por nascer e todo o equipamento necessario para montar uma nova civilizacao podiam ser colocados dentro de algumas centenas de metros cubicos e transportados para as estrelas. Fora isso, Brant sabia com certeza, que acontecera em Thalassa ha setecentos anos. Enquanto a estrada subia pelas colinas eles ja tinham passado por algumas das cicatrizes deixadas no solo pelas primeiras escavadeiras- robos, enquanto buscavam a materia-prima da qual os ancestrais de Brant tinham sido criados. Num momento eles estariam vendo as fabricas processadoras ha muito tempo abandonadas e…

— O que e aquilo? — sussurrou o conselheiro Simmons com ansiedade.

— Pare! — ordenou a prefeita. — Desligue o motor, Brant.

Ela estendeu a mao para alcancar o microfone do carro.

— Prefeita Waldron, estamos na marca dos sete quilometros. Ha uma luz a nossa frente, podemos ve-la atraves das arvores. Ate onde posso calcular, esta exatamente no Primeiro Pouso agora. Nao podemos ouvir nada mas vamos prosseguir Brant nao esperou pela ordem, empurrando o controle de velocidade suavemente para a frente. Era a segunda maior emocao de sua vida, depois do furacao do ano 09. Aquilo fora mais do que emocionante e ele teve sorte de escapar com vida. Talvez tambem houvesse perigo aqui, mas ele nao acreditava realmente nisso. Robos poderiam ser hostis? Certamente nao havia nada que qualquer estrangeiro pudesse desejar de Thalassa, exceto conhecimento ou amizade.

— Voce sabe — disse o conselheiro Simmons —, eu tive uma boa visao da coisa antes que sumisse atras das arvores e tenho certeza de que era algum tipo de aeronave. Naves semeadoras nunca possuiram asas e aerodinamica, e claro. E esta era uma muito pequena.

— O que quer que seja — disse Brant —, nos saberemos em cinco minutos. Olhe para aquela luz, aquilo desceu no Parque Terra, o lugar obvio. Devemos parar o carro e andar o resto do caminho? O Parque Terra era um oval de grama, cuidadosamente preservado, no lado ocidental do Primeiro Pouso, encontrando-se agora oculto a visao direta do grupo pela coluna negra da nave-mae, o monumento mais antigo e mais reverenciado do planeta. Derramando-se em torno das bordas do cilindro ainda nao enferrujado havia um foco de luz, vindo, aparentemente, de uma unica fonte de luz brilhante.

— Pare o carro antes de chegarmos a nave — ordenou a prefeita.

— Entao daremos a volta e olharemos. Desliguem as luzes de modo que eles so nos vejam quando quisermos.

— Eles ou aquilo? — perguntou um dos passageiros, um pouco histericamente. Todos o ignoraram. O carro parou na sombra da nave e Brant o fez girar 180 graus.

— So para podermos fazer uma saida rapida — explicou ele, entre serio e gozador. Ainda nao acreditava que pudesse haver algum perigo real. De fato, havia momentos em que se perguntava se aquilo estava realmente acontecendo. Talvez ainda estivesse dormindo e tudo fosse apenas um sonho muito claro. Sairam silenciosamente do carro e caminharam ate a nave, circundando-a ate chegarem a um clarao de luz bem definido. Brant abrigou os olhos e olhou alem da borda do casco, comprimindo as palpebras ante o clarao. O conselheiro Simmons tinha razao. Era algum tipo de aeronave ou aeroespaconave, e muito pequeno. Poderiam ser os Nortistas? Nao, isso era absurdo. Nao havia nenhuma utilidade concebivel para um veiculo assim na area limitada das Tres Ilhas e teria sido impossivel esconder sua construcao. Tinha a forma de uma ponta de flecha rombuda e devia ter pousado verticalmente, ja que nao deixara marcas na grama a sua volta. A luz vinha de uma unica fonte na carenagem dorsal aerodinamica, e um pequeno farol vermelho acendia e apagava bem acima dela. De fato, tratava-se de uma maquina comum, o que era ao mesmo tempo tranquilizador e decepcionante. Nao teria sido possivel viajar naquilo pelos doze anos-luz ate a mais proxima das colonias conhecidas. Subitamente a luz principal se apagou, deixando o pequeno grupo de observadores momentaneamente cego. Quando recuperou sua visao noturna, Brant pode ver que havia janelas na parte dianteira da maquina, todas brilhando fracamente com uma iluminacao interior. Aquilo parecia quase um veiculo tripulado, nao a aeronave-robo que lhes parecera obvia. A prefeita Waldron chegara exatamente a mesma conclusao espantosa.

— Nao e um robo, tem gente la dentro! Nao vamos perder mais tempo. Me ilumine com a sua lanterna, Brant, de modo que eles possam nos ver.

— Helga! — protestou o conselheiro Simmons.

— Nao seja burro, Charlie. Vamos, Brant. O que era mesmo que o primeiro homem na Lua tinha dito ha quase dois mil anos? „Um pequeno passo…” Eles tinham dado quase vinte quando uma porta se abriu num dos lados do veiculo, e uma rampa articulada se desdobrou rapidamente para baixo. Dois humanoides desceram ao encontro deles. Essa foi a primeira impressao de Brant. Entao ele percebeu que fora confundido pela cor da pele ou pelo que dela podia ver atraves da pelicula transparente e flexivel que os cobria da cabeca aos pes. Eles nao eram humanoides, eles eram humanos. Se nunca mais se expusesse ao sol, Brant poderia ficar quase tao palido quanto eles. A prefeita estava estendendo as maos no gesto tradicional „Veja, eu nao carrego armas!”, tao antigo quanto a historia.

— Eu nao creio que possam me entender — disse ela — mas sejam bem-vindos a Thalassa. Os visitantes sorriram, e o mais velho dos dois, um homem belo de cabelos grisalhos, no final dos sessenta, estendeu suas maos em resposta.

— Pelo contrario — ele respondeu, usando uma das vozes mais profundas e lindamente moduladas que Brant jamais ouvira —, nos compreendemos voces encontra-los perfeitamente. Estamos felizes em Por um momento o comite de recepcao ficou parado, em atonito silencio. Mas era tolice, pensou Brant, se surpreender com isso. Afinal eles nao tinham a menor dificuldade para entenderem a fala de homens que tinham vivido ha dois mil anos. Quando a gravacao sonora fora inventada, ela congelara os padroes basicos dos fonemas em todos os idiomas. Os vocabularios podiam se expandir, a sintaxe e a gramatica podiam ser modificadas, mas a pronuncia

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