canal 5… programa correndo.

SEU NOME E OWEN FLETCHER… RESPONDA SIM… OU NAO… SEU NOME E JOHN SMITH… RESPONDA SIM… OU NAO… VOCE NASCEU NA CIDADE LOWELL, MARTE… RESPONDA SIM… OU NAO… SEU NOME E JOHN SMITH… RESPONDA SIM… OU NAO… VOCE NASCEU EM AUCKLAND, NOVA ZELANDIA… RESPONDA SIM… OU NAO… SEU NOME E OWEN FLETCHER…

VOCE NASCEU EM 3 DE MARCO DE 3585… VOCE NASCEU EM 31 DE DEZEMBRO DE 3584…

As perguntas se sucediam a intervalos tao curtos que, mesmo que nao se encontrasse levemente drogado, Fletcher nao teria sido capaz de inventar respostas. Pouca importancia teria se o fizesse. Em questao de minutos o computador havia estabelecido um padrao de respostas automaticas a todas as perguntas cujas respostas fossem conhecidas. De tempos em tempos a calibracao era reverificada (SEU NOME E OWEN FLETCHER… VOCE NASCEU NA CIDADE DO CABO, ZULULANDIA…). E as perguntas as vezes eram repetidas para confirmar respostas ja dadas. Todo o processo era completamente automatico, a partir do momento em que a constelacao fisiologica das respostas SIM/NAO fosse identificada. Os primitivos detectores de mentira tentaram fazer isso com razoavel sucesso, mas raramente com certeza absoluta. Foram necessarios mais de duzentos anos para aperfeicoar a tecnologia, e dai em diante revolucionar a pratica do direito penal e civil, ate o ponto em que poucos julgamentos duravam mais do que algumas horas. Nao era tanto um interrogatorio, e sim uma versao computadorizada e a prova de falhas do antigo jogo „VINTE PERGUNTAS”. Em principio, qualquer informacao seria rapidamente determinada por uma serie de perguntas com respostas na base do SIM ou NAO, e era surpreendente como raramente eram necessarias mais do que vinte perguntas, desde que um perito humano trabalhasse em colaboracao com a maquina especializada.

Quando um Owen Fletcher meio tonto cambaleou para fora da cadeira, uma hora depois, nao fazia ideia do que lhe fora perguntado e o que respondera. Estava razoavelmente confiante, entretanto, de nao ter revelado nada. Ficou meio surpreso quando o Dr. Steiner disse alegremente: — Isso e tudo, Owen. Nos nao vamos precisar de voce novamente. O professor se orgulhava do fato de nunca ter ferido ninguem, mas um bom interrogador tem que ser um pouco sadico, pelo menos no sentido psicologico. Alem disso, aquilo aumentava sua reputacao de infalibilidade e isto ja era meio caminho andado. Ele esperou ate que Fletcher tivesse recuperado o equilibrio e fosse escoltado de volta para a cela de detencao.

— Oh, a proposito, Owen, aquele truque com o gelo nunca teria funcionado. Na verdade poderia, mas isso nao importava. A expressao no rosto de Fletcher dava ao Dr. Steiner toda a recompensa de que ele necessitava para o exercicio de suas consideraveis habilidades. Agora ele podia voltar a dormir ate Sagan 2, mas primeiro iria relaxar e aproveitar um pouco, desfrutando o maximo deste intervalo inesperado. Amanha daria uma olhada em Thalassa e talvez nadasse em uma daquelas lindas praias. Mas por ora iria apreciar a companhia de um antigo e amado amigo. O livro que ele retirou respeitosamente de dentro de seu embrulho selado a vacuo nao era apenas a primeira edicao, era a unica. Ele o abriu ao acaso, afinal, conhecia cada pagina de cor. Comecou a ler e, a cinquenta anos-luz das ruinas da Terra, as neblinas rolaram uma vez mais sobre a rua Baker.

— Os interrogatorios confirmaram que apenas quatro Sabras estavam envolvidos — disse o comandante Bey.

— Nos podemos ser gratos por nao haver necessidade de interrogar mais ninguem.

— Ainda nao entendo como eles esperavam se sair com isso — disse o comandante Malina, desanimado.

— Nao creio que eles conseguissem, mas, para sorte nossa, nunca tentaram. De qualquer modo, ainda nao haviam se decidido.

— O Plano A envolvia danificar o escudo. Como sabem, Fletcher fazia parte da equipe de montagem e estava trabalhando num esquema para reprogramar o ultimo estagio no procedimento de

icamento. Se fosse permitido que um bloco de gelo colidisse a uma velocidade de apenas alguns metros por segundo, percebem o que aconteceria? — Poderiam fazer com que parecesse um acidente, mas haveria o risco de um inquerito subsequente provar logo que nao fora nada deste genero. E mesmo que o escudo ficasse danificado, poderia ser reparado. Fletcher esperava que o atraso lhe desse tempo de conseguir outros recrutas. Ele poderia estar certo, mais um ano em Thalassa…

— O Plano B envolvia sabotar os sistemas de protecao a vida, de modo que a nave tivesse de ser evacuada. Novamente as mesmas objecoes.

— O Plano C e o mais perturbador, porque teria encerrado a missao. Felizmente nenhum dos Sabras trabalhava com a Propulsao, teria sido muito dificil para eles chegar ao Impulsor… Todos olharam, chocados, embora ninguem tanto quanto o comandante Rocklyn.

— Nao teria sido tao dificil, senhor, se eles estivessem suficientemente dispostos. O grande problema teria sido conseguir alguma coisa que colocasse o Propulsor fora de acao permanentemente sem danificar a nave. Duvido muito que eles tivessem o conhecimento tecnico necessario. Eles estavam trabalhando nisso — disse o comandante com uma expressao sombria.

— Teremos que rever todos os nossos procedimentos de seguranca. Amanha havera uma conferencia para todos os oficiais superiores, aqui, ao meio-dia. E entao a cirurgia-comandante Newton colocou a pergunta que todos hesitavam fazer: — Havera uma corte marcial, comandante? — Nao sera necessario, ja que os culpados foram encontrados. De acordo com o Regulamento da Nave, o unico problema e a sentenca. Todos esperaram, e continuaram esperando.

— Obrigado a todos, senhoras e senhores — disse o comandante, e seus oficiais sairam em silencio. Sozinho em seu quarto, ele se sentiu traido e furioso. Mas pelo menos estava tudo acabado. A Magalhaes havia atravessado a tempestade artificial. Ou outros tres Sabras talvez fossem inofensivos, mas, e quanto a Owen Fletcher?

Sua mente vagueou ate o mortifero souvenir no cofre. Ele era o comandante: seria facil arranjar um acidente… Colocou de lado a fantasia. Ele nunca poderia realiza-la, e claro. De qualquer maneira, ja tomara sua decisao e tinha certeza de que todos concordariam. Alguem ja dissera uma vez que para cada problema existe uma solucao que e simples, atraente, e errada. Mas esta solucao, ele tinha certeza, era simples, atraente e absolutamente certa. Os Sabras queriam permanecer em Thalassa, entao poderiam faze-lo. Ele nao duvidava que pudessem se tornar cidadaos valiosos, talvez precisamente os tipos esforcados e agressivos de que esta sociedade necessitava. Como era estranho que a historia estivesse repetindo a si mesma. Como Magalhaes, ele iria abandonar alguns de seus homens. Mas se os estava punindo, ou recompensando, nao saberia senao dentro de trezentos anos.

VI — AS FLORESTAS DO MAR

44. BOLA ESPIA

O Laboratorio Marinho da Ilha do Norte fora bem menos entusiastico: — Nos ainda precisamos de uma semana para reparar o Calypso — disse o diretor.

— E tivemos sorte de encontrar o treno. E o unico que temos em Thalassa e nao queremos arrisca-lo de novo. „Eu conheco os sintomas”, pensou a cientista Varley. „Mesmo nos dias finais da Terra, ainda havia diretores de laboratorios que queriam manter seu lindo equipamento imaculado pelo uso.” — A nao ser que Krakan, o filho ou o pai, se comporte mal novamente, nao vejo nenhum risco. E os geologos nao prometeram que ele vai ficar por mais cinquenta anos? — Eu fiz uma pequena aposta com eles a respeito disso. Mas francamente, por que acha tao importante? „Que visao curta!”, admirou-se Varley. „Sendo o homem um fisico oceanografo, era de se esperar que tivesse algum interesse na vida marinha. Mas talvez eu tenha julgado mal, ele pode estar me sondando…”

— Nos temos certo interesse no assunto, desde que o Dr. Lorenson foi morto, felizmente de modo nao

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