ego nao me interessavam as conquistas comuns, e os restos da minha educacao religiosa faziam com que nao gostasse de promiscuidade.

O restaurante que a Sra. Coates escolheu era frances e, ao que parecia, muito bom.

– Espero que voce seja muito rico – disse ela. – Porque, aqui, os precos sao ferozes. Voce e muito rico?

– Muito.

Ela me olhou fixo, como se me estudasse.

– Pois nao parece.

– Nao somos novos-ricos – expliquei. – A familia nao gosta de mostrar que tem dinheiro.

– Que familia?

– Vamos deixar isso para outra ocasiao – disse eu.

Ela, porem, falou de si mesma sem que eu lhe pedisse. Era advogada, trabalhava na Divisao Antitruste do Departamento de Justica, havia onze anos que estava em Washington, seu ex-marido fora comandante da Marinha e uma autentica besta, nao tinha filhos nem tencionava te-los, sempre que podia ia para Hamptons, em Long Island, nadar e cultivar um pequeno jardim, havia cinco anos que seu chefe andava atras dela, mas fora isso era um amor, ela tinha a intencao de se candidatar ao Congresso antes de morrer. Ao mesmo tempo em que me contava tudo isso, numa voz baixa e melodiosa, interrompeu-se varias vezes durante o jantar para me indicar outros comensais e descrever o seu carater e as suas funcoes de maneira breve e maliciosa. Havia um senador com o qual nenhuma mulher podia estar a salvo, mesmo dentro de um elevador; uma segunda-secretaria de embaixada que traficava drogas pela mala diplomatica; um politiqueiro que escrevia em blocos das duas casas; um homem da cia que era responsavel por assassinatos em varios paises sul-americanos. Eu a tinha deixado escolher o vinho, embora tivesse preferido cerveja, e pedir os pratos para ambos, dizendo:

– Sou apenas um caipira, confio no seu bom gosto. – Era uma vitoria poder falar com uma bela mulher sem gaguejar. Um novo mundo parecia abrir-se para mim.

– Toda a sua familia, tao cheia de dinheiro, e composta de caipiras como voce?

– Mais ou menos – respondi.

– Voce nao sera da cia? – perguntou ela, olhando para mim criticamente.

Meneei a cabeca, sorrindo.

– Nem isso.

– Hale me disse que voce era piloto.

– Fui. Nao sou mais. – Fiquei imaginando quando ela tivera tempo, em meio a confusao do coquetel, de perguntar a Hale sobre mim. Por um momento, a curiosidade da mulher me britou e eu quase decidi coloca-la num taxi, depois do jantar, e deixa-la voltar para casa sozinha. Mas depois pensei que nao devia encarar a coisa assim e resolvi divertir-me. – Nao acha que precisamos de outra garrafa?

– Acho – respondeu ela.

Fomos os ultimos a sair do restaurante, e eu estava agradavelmente embriagado quando entramos no taxi. Durante todo o caminho nao nos tocamos, e, quando o taxi parou diante do edificio em que a Sra. Coates morava, eu disse ao motorista:

– Espere um pouco, sim? Vou so acompanhar a senhora ate a porta.

– Nada disso, motorista – retrucou ela. – O cavalheiro vai entrar para tomar um drinque.

– Era so do que eu precisava! – falei, procurando nao engrolar as palavras. – Um drinque! – Mas paguei ao motorista e subi com ela.

Nao pude ver como era o apartamento, porque ela nao acendeu a luz. Mal fechei a porta, ela me enlacou e beijou. Um beijo delicioso.

– Agora, vou seduzi-lo – avisou -, aproveitando que as suas defesas estao enfraquecidas.

– Considere-me seduzido.

Rindo, ela me guiou pela mao atraves do living as escuras ate o quarto. De uma porta entreaberta vinha um fino feixe de luz, que permitia distinguir os contornos de alguns moveis, uma grande mesa cheia de papeis, uma comoda, uma estante contra a parede. Ela me guiou ate a cama, fez-me dar meia-volta e me empurrou. Cai de costas na cama.

– O resto – disse ela – e comigo.

Se ela era tao boa no Departamento de Justica quanto na cama, o governo estava de parabens.

– Agora – disse ela, montando em mim, usando a mao para me fazer entrar nela. Comecou a mover-se, primeiro bem devagar, depois cada vez mais depressa, a cabeca jogada para tras, os bracos rigidos, as maos estendidas sobre a cama, suportando-lhe o peso. Seus seios amplos erguiam-se sobre mim, palidos a luz refletida por um espelho. Ergui as maos, acariciei-lhe os seios e ela gemeu. Comecou a solucar alto, incontrolavelmente, e ao atingir o orgasmo estava chorando.

Atingi-o logo depois, deixando escapar um longo suspiro. Ela saiu de mim e ficou deitada de brucos ao meu lado, aos poucos parando de chorar. Estendi a mao e toquei-lhe o ombro redondo e firme.

– Eu a machuquei? – perguntei.

– Que bobagem. Nao, que ideia! – exclamou ela, rindo.

– Tive medo de que…

– E a primeira vez que uma mulher chora enquanto voce trepa com ela?

– Que eu me lembre, e – respondi. E tambem era a primeira vez que uma mulher usava essa expressao. Nao havia duvida de que o pessoal da justica gostava da maxima 'pao, pao, queijo, queijo'.

Ela riu de novo, sentou-se na cama, estendeu a mao para o maco de cigarros e acendeu um. A luz do fosforo, seu rosto estava calmo e repousado.

– Quer um?

– Nao fumo cigarro.

– Vai viver cem anos. Otimo! Quantos anos voce tem, por falar nisso?

– Trinta e tres.

– No melhor da vida! – exclamou ela. – Ei, nao adormeca. Quero conversar. Que tal um drinque?

– Que horas sao?

– Horas de tomar um drinque. – Saiu da cama e vestiu um robe. – Que tal um uisque?

– Uisque esta bem.

Ela saiu para a sala, o robe farfalhando. Olhei para meu relogio. Ela o tirara do meu pulso, quando me despira, e o colocara na mesinha-de-cabeceira. Uma mulher ordenada. O mostrador luminoso do relogio indicava que passava um pouco das tres. 'Tudo a seu tempo', pensei, recostando-me sibariticamente, recordando outras madrugadas, o barulho da maquina de calcular, o vidro a prova de balas, as mulheres desgrenhadas pedindo-me para abrir a porta.

Ela voltou com os dois copos, deu-me um e sentou-se na beira da cama, seu perfil destacando-se contra a luz que vinha do banheiro. Bebeu avidamente. Era uma mulher avida, alem de organizada.

– Otimo! – falou. – E voce tambem foi otimo.

Nao pude deixar de rir.

– Voce sempre classifica os seus amantes?

– Voce nao e meu amante, Grimes – respondeu ela. – apenas um homem jovem e atraente, de boas maneiras, com quem eu simpatizei num coquetel e que tem a grande virtude de estar passando pela cidade. Essa e a maior das suas virtudes, Grimes.

– Entendo – falei, tomando um trago do uisque.

– Acho que voce nao entende, mas nao me vou dar ao trabalho de explicar.

– Voce nao precisa explicar-me nada – disse eu. – Basta o prazer que me deu.

– Voce nao costuma ir para a cama com uma mulher que mal conhece, nao e?

– Para ser franco, nao. – Ri de novo. – E a primeira vez. Por que… da para ver?

– Da para ver de longe. Voce nao e nada do que parece, sabe?

– O que eu pareco?

– Parece um desses jovens que fazem de viloes nos filmes italianos… ousados e inescrupulosos.

Era a primeira vez que alguem me dizia uma coisa dessas. Estava acostumado a ouvir dizer que me parecia com o irmao cacula de Fulano ou Sicrano. Ou eu tinha mudado drasticamente, ou Evelyn Coates nao se deixava enganar pelas aparencias, era capaz de ver o que havia de recondito nas pessoas.

– E e bom parecer isso? – perguntei, algo preocupado com o 'inescrupuloso'.

– E otimo. Em certas circunstancias.

– Como hoje a noite, por exemplo?

– Exatamente.

– Talvez eu volte a Washington daqui a dias – falei. – Posso telefonar-lhe?

– Se voce nao tiver nada melhor a fazer.

– Vai querer ver-me de novo?

– Se eu nao tiver nada melhor para fazer.

– Voce e assim tao dura como finge ser?

– Mais dura ainda, Grimes, muito mais dura. Por que motivo voce voltaria a Washington?

– Talvez por sua causa.

– Repita isso, por favor.

– Talvez por sua causa.

– Voce e mesmo gentil. E por que outra razao?

– Bem – disse eu lentamente, pensando que talvez pudesse obter algumas informacoes -, suponha que eu esteja procurando alguem…

– Alguem em particular?

– Sim. Alguem cujo nome eu sei, mas que sumiu de circulacao.

– Em Washington?

– Nao necessariamente. Em qualquer parte do pais, ou mesmo fora…

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